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03/05/2025

A escolha do Papa é “ditada” pelo Espírito Santo?

Artigo do P. Jean-François Thomas s.j. publicado em 2 de maio de 2025 na revista France Catholique. (Le choix du pape est-il « dicté » par le Saint-Esprit ?)

Diz-se às vezes que o Espírito Santo "faz" a eleição do Papa. Mas Deus não dita aos homens a sua decisão. Ele os ilumina, desde que estejam abertos à sua ação.

O Espírito Santo, no coração da Santíssima Trindade, é frequentemente maltratado pelo cristão, seja porque o ignora ou, ao contrário, porque tende a colocar sob seu selo atos que não provêm dele. Muita literatura contemporânea sobre o assunto e muitas pregações arriscadas podem manter uma confusão sobre o papel real do Espírito Santo na vida do batizado e na marcha da Igreja. Por ocasião de um futuro conclave, as afirmações mais passionais e mais irracionais às vezes tomam o lugar de uma justa prudência e de um equilíbrio espiritual que foram, desde a origem, as características da Igreja.

O livre-arbítrio dos cardeais

Sem qualquer moderação, alguns não hesitam em afirmar que a eleição pontifical desceria diretamente do Espírito Santo impondo-se aos cardeais eleitores sem levar em conta o exercício do seu livre-arbítrio, suas escolhas, suas opiniões sábias ou errôneas. O Papa é escolhido por homens que professam a fé católica, mas que são falíveis em muitos aspectos. Esta eleição, portanto, não é unicamente sobrenatural: comporta o humano, e a história da santa Igreja nos mostra o quanto o humano foi por vezes o mais poderoso e levou a melhor. Deus não desce à Capela Sistina e não inscreve no coração dos prelados uma tábua na qual estaria escrito em letras de ouro o nome do Soberano pontífice.

A inspiração do Espírito Santo é real, isto desde os Apóstolos, mas ele não é membro eleitor e não deposita nenhuma cédula na urna. Basta olhar a maneira como Judas foi substituído no grupo dos Doze. Os Apóstolos, bem guiados pelo Espírito Santo, começam por escolher eles mesmos dois homens de boa reputação, Barsabás o Justo e Matias. Enquanto oravam, utilizaram sua razão e sabedoria para definir os talentos e as virtudes esperadas para o novo Apóstolo. Num segundo momento, confiaram-se à divina Providência, e tiraram a sorte, confiando no sinal enviado por Deus, e Matias foi o eleito (Atos dos Apóstolos 1, 22-26).

"A nuca rígida"

Notemos esta harmonia que se estabelece entre a verdadeira liberdade cristã e a obra do Espírito Santo. Este último não torce nada, não esmaga: aperfeiçoa, ilumina, dá as graças necessárias para que a escolha humana seja segundo o plano divino. Ainda é preciso ser de boa vontade, demonstrar flexibilidade e obediência, renunciar à própria vontade. Caso contrário, apenas o humano, bruto e sem ligação com o Criador, terá a última palavra. Em seu catecismo, a Igreja sempre ensinou que os dons do Espírito Santo sustentam a vida moral cristã e tornam o homem dócil a seguir, num segundo momento, as inspirações do Espírito Santo. Portanto, nada é jamais ganho de antemão porque sabemos que temos, ó quanto, a nuca rígida e que freamos frequentemente com todas as forças para não avançar na direção, contudo iluminada pelo Espírito Santo, convencidos de que nossa ciência conhece melhor que Deus aquilo de que precisamos. Esquecemos que o Espírito Santo não deseja nos tornar escravos, nos submeter, mas que se dirige a nós como a crianças confiantes.

A docilidade dos Apóstolos

É impressionante constatar o quanto os Apóstolos foram dóceis sem serem amordaçados. Após o Pentecostes, eles se deixaram dirigir em tudo, sem por isso perder sua energia e seus caracteres tão diversos: o Espírito Santo revela a Pedro o que é preciso dizer e fazer para evangelizar os Gentios; ele envia o novo Paulo convertido para pregar Cristo até o martírio; traça o itinerário das viagens apostólicas; impede Paulo e Timóteo de prosseguir sua pregação na Ásia; é claro, ele dirige, guia, aconselha no momento do primeiro concílio em Jerusalém; estabelece os bispos das primeiras comunidades, etc.

O que é verdadeiro desta presença constante do Espírito Santo nas origens da Igreja continua válido em nossos dias: o Espírito Santo está presente, ativo, inspirador, contanto que o homem esteja aberto à sua ação. Sentimos bem, pelo menos em certos momentos, o quanto a obra de santificação que ele opera é eficaz porque é ele que planta em nossos corações o amor divino: "O amor de Deus foi derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado", diz São Paulo (Romanos 5, 5). E ainda, o mesmo Apóstolo: "Não sabeis que sois um templo de Deus e que o Espírito de Deus habita em vós?" (1 Coríntios 3, 16). Certamente somos relutantes, mas às vezes nos curvamos de bom grado.

Olhar sobrenatural

Os cardeais são feitos da mesma massa que qualquer outro cristão. Eles conhecem lutas idênticas e um conclave não é um parêntese milagroso do qual desapareceria subitamente a falta de generosidade para com o Espírito Santo. Na Capela Sistina, todos os sentimentos se misturam, todas as tentações, todas as ambições humanas, e se misturam com as virtudes, com a humildade e com a obediência às inspirações do Espírito Santo. Eis por que é necessário que cada fiel reze e ofereça sacrifícios para que o impulso que o carrega seja aquele conforme à vontade de Deus e não aos planos estritamente humanos e políticos.

O Espírito Santo, guiando toda inteligência, nos ensina a julgar as coisas do ponto de vista da eternidade e não somente considerando as coisas atoladas no tempo. Este olhar sobrenatural é aquele que habita todo homem desejoso de corresponder ao que Deus espera dele. Sejamos confiantes, sem sermos ingênuos: os homens da Igreja mais rebeldes à sua ação podem, eles também, ser tocados, virados, abalados pelo Espírito Santo. Como escreve São Pedro: "Lançai sobre o Espírito Santo todas as vossas inquietações, porque ele mesmo cuida de vós" (1 Pedro 5, 7). Durante a abertura e o desenrolar do conclave, lembremo-nos deste cuidado particular que o Espírito Santo reserva aos seus servidores.