Na véspera da abertura do conclave destinado a eleger o sucessor do Papa Francisco, Roma viveu um dia intenso marcado por rituais solenes, tensões diplomáticas e controvérsias reveladoras. Este dia, 6 de maio de 2025, inscreve-se como um momento crucial na história recente da Igreja Católica, refletindo tanto a unidade desejada quanto as profundas divisões que atravessam o colégio cardinalício.
1. A última congregação geral: definir o perfil do futuro pontífice
Na manhã de 6 de maio, os 133 cardeais eleitores reuniram-se para a décima segunda e última congregação geral. Esta sessão final permitiu estabelecer uma síntese das principais preocupações expressas nos dias anteriores e definir as qualidades esperadas do futuro papa.
Os cardeais insistiram particularmente na necessidade de escolher um homem capaz de:
- Reconciliar uma Igreja dividida
- Continuar a reforma da Cúria Romana
- Encarnar uma forte autoridade moral no cenário internacional
- Promover a paz no mundo
Os temas centrais abordados durante esta congregação incluíam a sinodalidade, a luta contra os abusos, a governança financeira, a ecologia integral, o papel das mulheres na Igreja e o diálogo inter-religioso. Apesar dos apelos à unidade, as divisões entre as correntes conservadora e progressista permaneceram perceptíveis.
2. Apelo solene pela paz mundial
Em um gesto significativo, a Santa Sé publicou ao meio-dia um comunicado oficial (referência B0297) no qual os cardeais reunidos lançaram um apelo urgente por um cessar-fogo imediato e permanente nas zonas de conflito, especialmente:
- Na Ucrânia, onde as ofensivas russas intensificaram-se recentemente
- No Oriente Médio, particularmente em Gaza, onde foram relatados ataques contra populações civis cristãs e muçulmanas
Este apelo, formulado em italiano, expressava o desejo ardente de uma paz "lungamente desiderata dal mondo intero" (longamente desejada pelo mundo inteiro). Esta mensagem encontrou um eco importante nas redes sociais católicas de todo o mundo, sublinhando a influência moral que a Igreja continua a exercer em questões de paz internacional.
3. Destruição simbólica do Anel do Pescador
O dia 6 de maio de 2025 também marcou o fim canônico do pontificado de Francisco. De acordo com a tradição secular, o Anel do Pescador e o selo de chumbo do falecido papa foram oficialmente destruídos durante uma cerimônia realizada na Aula do Sínodo, na presença do Camerlengo e do Colégio Cardinalício.
A Secretaria de Estado do Vaticano comunicou sobre este evento simbólico através de sua conta oficial @TerzaLoggia na plataforma X (anteriormente Twitter) às 9h41, lembrando o significado profundo deste ritual que marca a vacância da Santa Sé.
4. Instalação na Casa Santa Marta e medidas de confidencialidade
Em preparação para o conclave que começará no dia seguinte, os 133 cardeais eleitores foram alojados na Domus Sanctae Marthae (Casa Santa Marta). Medidas excepcionais de segurança digital foram implementadas:
- Instalação de bloqueadores de sinal para impedir qualquer comunicação não autorizada
- Confisco de todos os dispositivos eletrônicos
- Juramento de segredo sob pena de excomunhão, conforme a constituição apostólica Universi Dominici Gregis
O pessoal do Vaticano diretamente envolvido na organização do conclave também prestou juramento de respeitar uma confidencialidade absoluta.
5. Últimas aparições públicas dos cardeais
Antes de seu isolamento completo, vários cardeais aproveitaram suas últimas saídas públicas para celebrar missa em diferentes igrejas romanas ou conceder breves entrevistas. Celebrações especiais pela unidade da Igreja ocorreram notadamente em Saint-Louis-des-Français e em San Gioacchino in Prati.
Estes momentos de comunhão com os fiéis permitiram aos cardeais fortalecer os laços com a comunidade católica antes de entrar no processo eleitoral.
6. Tensões geopolíticas influenciando o conclave
A situação na Terra Santa
Segundo o Catholic Herald, as recentes violências ocorridas em Jerusalém e Belém projetam uma sombra inquietante sobre o conclave. Vários prelados expressaram o desejo de um papa capaz de defender com firmeza as minorias cristãs perseguidas nesta região conturbada do mundo.
Declarações controversas do Cardeal Zen
Em uma entrevista concedida à France Catholique, o cardeal chinês Joseph Zen fez declarações notáveis, afirmando que a Igreja estava "diante de uma questão de vida ou morte". Ele denunciou especialmente os acordos diplomáticos com certos regimes autoritários:
"Se a Igreja continuar a pactuar com as ditaduras, perderá toda credibilidade."
Estas palavras pareciam criticar diretamente o acordo Vaticano-China, defendido pelo cardeal Pietro Parolin, potencial candidato à sucessão.
7. Controvérsias em torno de certos papáveis
Cardeal Parolin e alegações de ligações maçônicas
Duas investigações jornalísticas publicadas respectivamente no Il Fatto Quotidiano e no LifeSiteNews revelaram o suposto apoio de um antigo Grão-Mestre maçônico, Giuliano Di Bernardo, ao cardeal Pietro Parolin. Este último seria apresentado como o "amigo ideal" dos maçons para aceder ao trono de Pedro.
Mais controverso ainda, Di Bernardo teria afirmado que o próprio papa Francisco teria mantido simpatias maçônicas, sem, contudo, fornecer provas concretas para apoiar estas alegações.
Cardeal Tagle e rumores de frequentação de cassinos
Um artigo publicado em La Nuova Bussola Quotidiana lançou uma sombra sobre a candidatura do cardeal filipino Luis Antonio Tagle, considerado favorito dos círculos progressistas. Segundo esta fonte, o cardeal frequentaria regularmente os cassinos de Macau e manteria ligações com grupos financeiros ativos no setor do jogo.
Estas revelações, se confirmadas, poderiam comprometer seriamente suas chances de eleição.
8. Preparativos logísticos para a eleição
A Catholic News Agency relatou que o alfaiate pontifical preparou três batinas de tamanhos diferentes (pequena, média e grande) para vestir o futuro papa imediatamente após sua eleição. A famosa "stanza del pianto" (sala das lágrimas), situada perto da Capela Sistina, foi preparada para acolher o eleito que lá se retirará para vestir as vestes pontificais.
Estes preparativos materiais testemunham a atenção dada a cada detalhe do ritual ancestral que envolve a eleição de um novo papa.